Endometriose e robótica

A endometriose é uma patologia cada vez mais frequente e representa grande desafio no cuidado da mulher moderna. Atinge mais de 10% das mulheres em idade reprodutiva, podendo representar grande impacto na qualidade de vida destas mulheres, uma  vez que está associada a dores crônicas e infertilidade. A  doença caracteriza-se pela presença e crescimento de células endometriais fora da cavidade uterina. Esta situação associa-se a uma resposta inflamatória crônica que tem como consequência diretas a formação de fibrose, formação de aderências, irritação ou infiltração de inervação e distorção da anatomia pélvica. O processo também pode ter caráter infiltrativo e invadir tecidos adjacentes ao útero, mais comumente ovário, trompas, porções do intestino e bexiga. 

O tratamento da endometriose varia de caso a caso, depende dos aspectos evolutivos da doença e, especialmente, da sintomatologia das pacientes. A cirurgia com retirada das lesões, muitas  vezes, está indicada. 

Como trata-se de uma doença benigna, o tratamento cirúrgico deve equilibrar o potencial terapêutico e a preservação dos órgãos, observando-se a máxima que o tratamento não pode ser mais agressivo que a doença. Objetivo do cirurgião é ser o mais agressivo possível com a doença e o menos agressivo possível com a paciente.

A via cirúrgica preferencial para a abordagem da endometriose é a laparoscopia que apresenta comprovados benefícios como recuperação mais rápida, menor perda sanguínea, melhor visualização intra-operatória, menor tempo de hospitalização, melhores resultados cosméticos e menos dor no pós-operatório. 

A cirurgia robótica representa o avanço na laparoscopia, se apresentando como instrumento mais sofisticado e preciso.  A utilização da plataforma robótica agrega ergonomia para o cirurgião diminuindo o cansaço do mesmo, o que é muito importante em cirurgias longas e complexa; melhor coordenação de movimentos no campo operatório; redução do tremor; visualização 3D; instrumental mais delicado e com maior mobilidade, permitindo movimentos circulares das pinças, muito úteis na ressecção exata e delicada das lesoes de endometriose e sutura de tecidos. Tudo isto aponta  para  maior  precisão   cirúrgica  e  uma maior capacidade de retirada de lesões com preservação ainda maior dos tecidos sadios, o que, como já mencionado, é essencial na abordagem da endometriose. Além disto, com o uso da plataforma robótica,  o risco e a necessidade de converter a cirurgia minimamente invasiva  para cirurgias abertas convencionais, com grandes incisões, são menores. Infelizmente, a grande limitação da robótica ainda é o seu custo e a baixa acessibilidade. 

A cirurgia robótica é uma possibilidade para todas as pacientes que possuem indicação para a realização de tratamento cirúrgico da endometriose. Todas as vantagens adicionais da plataforma são ainda mais significativas em mulheres com endometriomas grandes, endometriomas bilaterais, acometimento de nervos, lesões intestinais e/ou nas chamadas “pelves congeladas” 

Desta forma, a robótica já pode ser considerada um instrumento auxiliar importante na abordagem da paciente com endometriose com grande potencial na melhoria de resultados da terapêutica cirúrgica destas mulheres. Esta tecnologia já está disponível em nosso meio e a possibilidade de sua utilização deve fazer parte da rotina de tomada de decisão no tratamento da endometriose.

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