Os miomas uterinos são os tumores ginecológicos benignos mais comuns da mulher. Até 70 a 80% das mulheres com idade reprodutiva terão a patologia e 20 a 40% terão sintomas a eles relacionados. Os sinais e sintomas mais comuns são: sangramento uterino anormal, dor pélvica, desconforto pélvico como sensação de peso abdominal baixo e queixas urinarias como micção frequente e pequena capacidade de reter urina. Menos frequentemente, distúrbios reprodutivos podem ser associados a presença desta patologia como perdas gestacional de repetição, parto prematuro, alterações de crescimento fetal, dentre outras. Todos estes aspectos podem produzir grande impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes afetados.
O diagnóstico dos miomas é clínico e imagiológico. Ultrassom e Ressonância Nuclear Magnética são fundamentais para acompanhamento e melhor planejamento das estratégias de tratamento.
O tratamento está indicado quando existem sintomas ou se observa crescimento das lesões no acompanhamento seriado das pacientes. A abordagem cirúrgica está indicada nas falhas do tratamento clínico ou quando ele está contraindicado. Os procedimentos realizados são as miomectomias, retiradas de miomas, que preservam o útero e a histerectomia, que consiste na retirada dos miomas juntamente com o útero.
Deve-se ressaltar que em nenhuma situação é obrigatória a retirada do útero. Caso exista o interesse de manutenção da fertilidade a técnica de miomectomia sempre pode ser tentada. Esta técnica é mais complexa e exige um trabalho de reconstrução da estrutura uterina após a retirada dos miomas. Em algumas raras situações, esta reconstrução não será obtida de forma satisfatória e será necessária a retirada do útero. No entanto, estas últimas, são situações cada vez mais excepcionais na medida que se aprimoram as técnicas cirúrgicas.
A cirurgia robótica apresenta-se como uma evolução dos processos cirúrgicos. A técnica utiliza os mesmos princípios da laparoscopia com o suporte de braços robóticos que, comandados pelo cirurgião, movimentam pinças cirúrgicas aprimoradas que simulam os movimentos da mão do cirurgião, incluindo os movimentos de punho no interior da cavidade abdominal. Os sistemas possuem óticas com visualização tridimensional de alta definição. A técnica permite melhor precisão de movimentos, mais fácil movimentação de estruturas, notadamente as grandes, e maior ergonomia para o cirurgião. Estes aspectos são grandes facilitadores da abordagem, em especial, para as cirurgias mais complexas que podem se estender por várias horas.
Nas miomectomias robóticas podemos esperar uma diminuição do sangramento, e mais fácil enucleação do mioma, mais fácil extração da peça cirúrgica e mais fácil sutura do útero. Estas vantagens podem se relacionar com menor taxa de conversão para cirurgia aberta e menor dano uterino, o que é de especial importância quando se pretende preservar a fertilidade. A principal limitação desta técnica é o seu custo e disponibilidade.
Hoje, após alguns anos de uso do robô nas miomectomias, posso afirmar que sua utilização permitiu uma expansão dos limites da técnica minimamente invasiva para o tratamento de miomas, permitindo seu emprego em úteros cada vez maiores e com um número cada vez maior de lesões. Tudo isto, sem alterar as taxas de complicações cirúrgicas, mantendo internações e períodos de recuperação curtos, o que leva a grande satisfação dos pacientes.