Os leiomiomas ou miomas uterinos são os tumores pélvicos mais comuns em mulheres. Sua incidência é de difícil determinação. São tumores benignos do miométrio estando presente em aproximadamente 30-70% das mulheres antes da menopausa. São clinicamente aparentes em 12 a 24% das mulheres em idade reprodutiva e presentes em 80% dos úteros retirados cirurgicamente. O diagnóstico dos miomas é clínico e imagiológico. Ultrassom e Ressonância Nuclear Magnética são fundamentais para acompanhamento e melhor planejamento das estratégias de tratamento. Podem ser classificados como: intramurais, quando estão restritos a parede muscular do útero, subserosos, quando tem progressão para a cavidade abdominal, no sentido da superfície externa do órgão; submucosos, quando tem progressão para a mucosa uterina, o endométrio, e produzem abaulamento e ou deformidade da anatomia da cavidade uterina. Este último grupo é o que mais se associa aos sintomas relatados pela mulher como sangramentos, dor pélvica e disfunções reprodutivas.
A histeroscopia é um procedimento endoscópico que permite a abordagem diagnóstica e terapêutica das patologias do interior da cavidade uterina. A técnica é considerada minimamente invasiva sendo associada a diminuição dos riscos, danos teciduais e tempo de afastamento das atividades cotidianas das mulheres submetidas ao procedimento. Mesmo procedimentos histeroscópicos maiores têm período de internação curto, sendo realizados, na grande maioria das vezes, em regime de “hospital dia” (internação e alta realizados dentro de um período de 12 horas).
A miomectomia (cirurgia de retirada de mioma) histeroscópica é uma das principais indicações para a realização de procedimentos cirúrgicos histeroscópicos. Guiado pela visão do histeroscópio o cirurgião pode fazer a enucleação ou fatiamento do mioma de seu local de implantação uterina e posteriormente direcionar a retirada do produto cirúrgico da cavidade uterina. A técnica permite mínimo trauma tecidual e a manutenção da estrutura uterina, que é fundamental quando se deseja a preservação da fertilidade da paciente.
A técnica histeroscópica da miomectomia tem alto índice de satisfação, mas, alguns aspectos devem ser ressaltados. Devido a questões relacionadas à necessidade de um meio de distensão da cavidade uterina para sua execução é possível que ocorra uma absorção significativa desta solução pelo organismo o que pode levar a complicações. Assim, procedimentos cirúrgicos em miomas maiores podem ter que ser realizados em mais de um tempo cirúrgico. Também, é de fundamental importância que o mioma seja adequadamente mapeado no útero. Para que seja operado pela via histeroscópica o mioma não pode comprometer toda a parede uterina. Deve existir um manto de miométrio de pelo menos 0,5 a 1 cm entre o mioma e a serosa uterina para que a cirurgia possa ser realizada. Este e outros aspectos como número de lesões, volume total do útero, condições clínicas da paciente, reforçam a necessidade de um mapeamento bem executado das lesões e uma individualização cuidadosa de cada caso.
Assim, a abordagem histeroscópica dos miomas é um dos procedimentos já consolidado na rotina da cirurgia ginecológica minimamente invasiva e quando realizado de forma adequada com equipe devidamente treinada é um importante instrumento para o tratamentos dos miomas submucosos e na preservação da fertilidade de nossas pacientes.